10
janeiro

Em meio a polêmicas, prefeitura retoma retirada de currais da área urbana de Santa Cruz


Reportagem Especial

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Primeira operação do ano foi realizada no Loteamento Acauã – Fotos: Thonny Hill

Na manhã desta terça-feira (10) recomeçou a retirada de currais em Santa Cruz do Capibaribe. A operação, coordenada pela Prefeitura Municipal, acontece no loteamento Acauã, onde vários currais e alguns barracos já foram demolidos.

A retirada dos currais envolve uma questão que gera muita polêmica, já que muitos desses locais, que são espalhados em vários pontos da área urbana, existem há várias décadas.

Alguns proprietários que tiveram seus currais retirados na manhã de hoje, alegaram que estão no local há bastante tempo, inclusive com residências de moradia. Um desses casos é o da senhora Maria Pureza, catadora de reciclagens. Segundo ela, além de ter um curral para criação de animais de trabalho, também disse ser proprietária de um barraco onde, segundo a mesma, mora com a família há cerca de oito anos.

De acordo com ela, foi recebida a notificação de que o local seria demolido, mas citou também que não foi incluída, até o momento, em nenhum programa social e que agora está sem local para morar.

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“Trabalho com reciclagem e é o único local que tenho para guardar meu meio de vida. Tenho meus animais de trabalho e não tenho onde colocar, porque não tenho como pagar aluguel. Estou morando em uma casa invadida e está arriscado o dono me jogar para fora, porque não tenho onde ficar. Meu barraco está para ser derrubado. Eu acho que o prefeito deveria se preocupar com outras coisas que tem aí para fazer e não com um barraco de alguém faz para morar porque não tem condições de ter um local melhor. E meus animais de trabalho, eu vou colocar onde? Tenho 52 anos e não aguento trabalhar em serviço pesado para conseguir uma casa. Não consegui uma casa para morar e dependo daquele barraco. Vão derrubar meu barraco e eu vou ficar onde, já que o dono vai querer a casa?!” – disse.

Outros dois proprietários de currais nas proximidades alegam estar na mesma situação que Maria Pureza e afirmam também que, até o momento, a prefeitura não chegou com nenhuma alternativa que possa servir para colocar os animais que, segundo os mesmos, são para uso de trabalho e obter sustento de suas famílias.

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Barraco que, segundo Maria Pureza, lhe servia de moradia. Abaixo, outros moradores que alegam não ter para onde ir.

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Nossa equipe tentou gravar com Mário Melo, funcionário que estava à frente dos trabalhos de demolição. O mesmo não quis gravar entrevista, mas relatou que a prefeitura já teria tentado negociar a compra de uma área para instalação de currais coletivos, porém não obteve sucesso.

Ainda de acordo com o mesmo, quando os proprietários dessas áreas rurais descobriam que a finalidade de compra seria a construção desse tipo de área, recusavam as ofertas de imediato.

A palavra do secretário

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Foto: Arquivo.

Entramos em contato, por telefone, com o Secretário Gilson Julião (foto acima) para falar sobre a operação de retirada desses currais. Segundo o mesmo, as operações foram planejadas ao longo de aproximadamente quatro meses junto com as secretarias envolvidas e que a mesma vai seguir para outros pontos do município.

Segundo ele, já existiam encaminhamentos feitos pelo Ministério Público quanto a necessidade de retirada de currais na área urbana e que proprietários vinham sendo notificados.

De acordo com o mesmo, houve uma negociação com os proprietários no loteamento Acauã para que o prazo de retirada fosse estendido até 10 de janeiro, data em que os locais começaram a ser demolidos.

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Sobre donos de currais que alegaram ter residência nos locais invadidos

Sobre esse ponto, o secretário relatou desconhecer da existência de mais de um morador na localidade. Segundo o mesmo, órgãos como o CRAS estiveram realizando o acompanhamento e que, no momento da visita, não mais do que uma residência havia sido encontrada.

“Quando foi feita essa visita lá e estou com todas as notificações especificamente com a retirada de currais, acho que em torno de 30 a 35 notificações e, naquele momento da visita, tanto no dia 02 como no dia 06 (de dezembro), tivemos esse cuidado e não foi identificado pelo CRAS ou pela nossa equipe nenhum morador. Até estranho que, depois da ação começar a ser feita e nos termos reunido com alguns donos de currais, aparecer três pessoas. Tem um senhor lá que foi até contraditório (…), disse que morava no Acauã, em uma residência ali próximo a Fazenda Tibúrcio e, em outro momento, ele disse que morava em um barraco lá. De fato, vimos um barraco lá e vamos estar fazendo alguma ação com relação a esse. Ficou contraditória essa situação mas vamos estar acompanhando esses possíveis moradores, que não foram identificados” – disse.

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Falta de uma área pública para instalação de currais

Gilson também foi questionado se haveria a possibilidade de uma área pública para instalação de currais que pudesse acomodar esses animais.

“Não temos nenhuma área do município na zona rural. Ela é ocupada por particulares e os terrenos que existem em loteamentos em outras áreas urbanas não podem ser cedidos ou feito algum tipo de doação para criação desse tipo de animais” – disse.

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A falta de consenso entre prefeitura e proprietários

O Secretário citou também que uma reunião com proprietários de currais foi realizada e que não se chegou a um consenso. Gilson citou que algumas alternativas para geração de renda teriam sido postas pela Secretaria de Agricultura a época tais como a realização de cursos e ofertas de linhas de crédito para vendedores de água, mas que não houve aceitação.

“Percebi depois da reunião que alguns tem veículos automotor a exemplo de moto ou carro, que poderiam estar vendendo essa água ou em uma moto adaptada para esse tipo de comercio ou no próprio automóvel. Eles se exaltaram e não chegaram a um consenso, disseram que não tinha interesse em tratar sobre isso. Já Tínhamos dialogado e não poderíamos deixar mais para frente” – pontuou.

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O que deve ser feito na área e novas operações

De acordo com Gilson, as primeiras ações nos locais devem contemplar a parte de saneamento, já que existem vários córregos com esgoto a céu aberto e também ações quanto a melhoria da iluminação pública. De acordo com o mesmo, a retirada dos currais no Acauã deve ser concluída até a próxima sexta-feira (13) e falou sobre o local da próxima operação:

“Vamos estar vindo para aquele riacho que começa no bairro da Cohab e que vai descendo ao lado da (Comunidade) Divina Misericórdia. Sabemos que ali tem uma grande quantidade de currais na parte mais urbanizada do município descendo para a divisa dos bairros Dona Lica I e II” – pontuou.

Ouça a entrevista com o secretário, feita ao jornalista Thonny Hill:

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