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Vídeos virais e uma história de vida

Vídeos de Santa-cruzense ‘viralizam’ nas redes sociais

 

Familiares afirmam que o hábito melhorou o comportamento da ‘protagonista’

 

Fotos: Janielson Santos.
Fotos: Janielson Santos.

 

 

Para alguns críticos é exploração e abuso, para ela e família é terapia e diversão.  Visões diferentes sobre os vídeos protagonizados por Maria José da Conceição, idealizados por sua sobrinha, Monique Tibúrcio (23 anos), que ‘viralizaram’ nas redes sociais.

 

Nos curtos vídeos, publicados na rede social, facebook, apresentados por tia e sobrinha, elas conversam, mandam recados, brincam e cantam despretensiosamente, sempre de bom humor. Os mesmos já renderam centenas de curtidas e compartilhamentos, além de milhares de visualizações.

 

“Ano passado saí com ela para fazer algumas visitas e, nas ruas, percebi que muita gente falava com ela. E pensei ‘olha, Maria é popular’. Então fiz os vídeos para matar a saudade das pessoas que pensavam, até, que ela estivesse morta”, conta Monique.

 

O primeiro vídeo ‘bombou’ e elas seguiram improvisando e disseminando na rede.

 

Em meio a muitos elogios e risadas, as críticas também surgiram. E alguns afirmam que os vídeos com a tia com problemas mentais e articulações comprometidas, desde o nascimento, seria exploração.

 

“Tem gente que fala que eu estou explorando. Fiquei triste, pensei em parar. Mas, quando chego em casa e vejo a alegria dela, eu volto a fazer novamente. Tá tudo tão calmo”, diz Monique, animadamente.

 

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De acordo com familiares, a agitação e estresse de Maria José, diminuíram consideravelmente após a animação dos vídeos.

 

“Até a quantidade de remédios para acalmar ela, a gente percebe que pode dar menos. Isso depois dos vídeos. Ela se anima, acha bom. Por causa dos vídeos também, o pessoal vem visitar, e ela se sente bem”, diz Orlandiva da Conceição Silva Tibúrcio, irmã de Maria José e mãe de Monique.

 

“A rotina é diferente, agora. Enquanto os dias estiverem melhor, a gente vai continuar fazendo”, ratifica Monique.

 

Quem é ela?

 

Para quem não conhece, Maria José da Conceição perambulou pelas ruas de Santa Cruz do Capibaribe por décadas. Vítima de abuso e preconceito apelidada por ‘Caco’. Denominação que nunca aceitou e respondia com pedras. Hoje, quando ainda ouve o apelido, apenas corrige “Meu nome é Maria José”.

 

De uma infância difícil, deu os primeiros passos apenas aos nove anos de idade. Ao perder os pais ainda jovem, se afastou dos 5 irmãos e foi morar nas ruas da cidade, onde entrou rapidamente no vício do álcool.

 

Numa de suas andanças, foi encontrada em Petrolina e, reconhecida por Padre Bianchi Xavier, foi reconduzida para Santa Cruz.

 

Nas ruas foi humilhada, passou fome e frio, mas sobrevivendo da caridade de quem lhe oferecia algo para comer. Pessoas que também lhe respeitavam e ajudavam da forma que podiam.

 

Maria teve um filho, que foi doado ainda no hospital. Nunca descobriram também quem era o pai da criança, nem o paradeiro do bebê.

 

Há cerca de 10 anos, Dona Orlandiva Tibúrcio retirou a irmã das ruas, lhe internando em uma clínica de referência psiquiátrica, em Caruaru. Após 2 meses, passou a morar com a família, com quem está até os dias atuais.

 

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O processo de adaptação não foi fácil. Agitada, proporcionou uma verdadeira batalha para familiares, até acostumar-se.

 

“Hoje, ela mal chega a porta e já quer voltar”, conta familiares.

 

A idade exata de Maria José é desconhecida até pela família. Na documentação consta o nascimento em 12 de maio de 1955 (60 anos). No entanto, os documentos foram retirados, apenas, quando lhe resgataram das ruas, sem uma precisão do dia em que veio ao mundo.

 

Atualmente, ela não consegue se locomover e necessita da ajuda dos familiares para a grande maioria de suas atividades. A irmã relata que, após a virose que assolou a cidade, ela perdeu totalmente a mobilidade já debilitada pelos problemas de saúde durante sua vida.

 

IMG_9480Por todas as dificuldades diárias, elas parecem ter encontrado uma ‘saída de escape’, e garantem não parar, enquanto estiver funcionando.

 

Até agora, são 32 vídeos publicados, com um pico de 19 mil visualizações em apenas um deles. Monique garante continuar, enquanto estiver ajudando no tratamento diário da tia.

 

“O povo sempre pede, e só não faço mais por que não tenho tempo. Tem gente que diz que, quando está triste vai olhar os vídeos, outras pessoas dão os parabéns e pede para não desistir”, afirma Monique.

 

Antes de sair, Maria José conta alguns causos que vivenciou nas ruas, lapsos da sua história, e finaliza sobre os vídeos com um pedido.

 

“Eu gosto de falar. E meu nome não é Maria. É Maria José. Bote meu nome aí”.

 

O nome está posto.

 

Confira um dos vídeos:

 

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