A violência doméstica é um mal que afeta toda a família e não acaba com as promessas do agressor
Na ultima reportagem da Série Violência Silenciosa, o Blog do Ney Lima ouviu uma família, vítima da violência doméstica. Mulher e filhos passaram por anos de sofrimento até o momento em que a denúncia foi realizada.
Joana é uma costureira santa-cruzense que esteve casada por 24 anos, com o pai de 04 de seus cinco filhos, e relatou que por muito tempo acreditava que a violência iria parar, confiava nas promessas de carinho e proteção após casa espancamento.
“Eu apanhei muito. Apanhava feito burro velho, sofri muito. Eu ia atrás dele para trabalhar, ele batia em mim, na frente dos amigos (…) Ele já me bateu que quase me mata, quando chegamos em casa, a feira, que meu sogro tinha feito, ele derramou tudo. Todo o leite dos meninos e eu aguentando muita coisa que ele fazia”, conta Joana.
A vítima diz que não pedia a separação por acreditar que ele seria um bom pai para os filhos, que era melhor que ele educasse, junto com ela, as crianças, porém, quando os pequenos começaram a crescer, também começaram a ser agredidos, física e verbalmente.
“Quando os meninos foram crescendo, ele foi me ameaçando, batendo nas filhas e eu aguentando, aguentando, aguentando aquele problema todo porque eu não queria ir pra justiça. Eu queria criar meus filhos junto com ele, só que era uma vida muito triste” relata.
Joana passou pouco mais de 01 ano afastada do marido, porém, com as promessas de uma vida melhor resolveu voltar, com os filhos, para a casa que deveria se rum lar. Desde então os filhos foram agredidos “Eu achava que ele era o pai dos meus filhos. Mas desse dia em diante eu vi que ele não era o pai dos meus filhos, porque ele começou a agredir as meninas”, lembra.
Mais uma vez Joana resolveu ir embora com os filhos, passou a morar na casa de um irmão e, desde então, o ex-marido ameaça a vida dela e de toda a família. “Fui morar com meu irmão, evitei passar na frente da casa da mãe dele, para não ter confusão. Quando eu falava que ia dar parte dele, ele dizia que não tinha medo, que ela era “considerado”, que ninguém mexia com ele, que ele era um cabra direito”, relatou.
A costureira disse ainda que, nos 24 anos de relação, até a lei Maria da Penha, prestada uma queixa contra o marido, após as agressões e, com as promessas constantes, voltava à delegacia e retirava a ocorrência.
“Vinte e quatro anos e eu nunca tinha percebido que isso era um sofrimento forte. Às vezes eu vinha dar parte dele, me davam a intimação, mas ele mandava retirar a queixa, porque dizia que ia mudar. Eu saia escondido da minha família, eu acreditava nele, acreditava que nunca mais ele ia fazer isso comigo. Escondido da minha família eu retirava a queixa. Ele passava 15 dias bom, depois ele fazia de novo”, relembra Joana.
A vítima disse ainda que as filhas foram constantemente agredidas, proibidas de ter namorados, uma situação cada vez pior. “Eu achava que quando ele ficasse mais velho ele seria um bom pai. Mas ele foi ficando pior do que ele era. Ele nunca ajudou a criar os filhos”.
Os filhos relatam inúmeros casos de agressão. A mais velha, Teresa, com 24 anos, já passou por situações constrangedoras como o então padrasto tentar pagar por sexo.
“Ele espancou ela várias vezes, tanto que ela cansou, há seis meses estão separados, mas ele ainda tenta. Uma vez ela estava doente em Campina Grande, ele quis abusar de mim, pegou nas minhas partes intimas. Eu não quis, disse que ele tinha que me respeitar, porque ele é marido da minha mãe, saí, e ele dizendo que não, que me dava dinheiro, disse que não era prostituta e que mesmo que fosse não teria relação sexual com ele. Disse que o respeitava e considerava como pai”, disse.
Teresa contou ainda que o agressor tentava manter relações sexuais com sua mãe, Joana, na frente dos filhos. “Muitas vezes eu estava lá, ela deitada perto de mim, e ele pegava nas partes intimas dela. Ele não me respeitava, meus filhos afastei de lá, porque ele fazia isso na minha frente, dos meus filhos, e das filhas dele. Cansei das meninas chegarem para mim dizendo que ele tentava pegar nela, que mostrava as partes íntimas dele, que tirava a roupa porque queria ter relação sexual com ela”, relatou.
Outra filha, uma adolescente de 17 anos, contou que as amigas não a visitavam em casa, porque o pai também fazia insinuações para elas. E lembra que, por várias vezes, o pai tentou vende-la, junto com as irmãs, em bares, como prostitutas. “Ele já tentou nos vender em bar, já tentou entrar no banheiro para nos ver”, desabafou.
Marina, também filha do casal, relatou as agressões “batia a cabeça do meu irmão na parede, jogava a gente, batia na gente com pau. Ele batia e mainha ficava só olhando, quando a gente dizia que ia dar parte, ela dizia que não”, disse.
Como a família de Joana, que teve os nomes alterados para proteger a identidade das vítimas, diversas famílias passam pelos mesmos problemas. Para denunciar você pode procurar a Delegacia de Polícia Civil, o Centro de Referência da Mulher ou ligar 180. Denuncie.