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Reportagem Especial: O medo da Seca

Leito de riacho seco mostra a dificuldade de se conseguir água na época de seca. Foto: Thonny Hill

O Blog do Ney Lima vai mostrar uma série de reportagens abordando o drama enfrentado pelos nossos agricultores nesse longo período de estiagem. Coletamos diversos depoimentos daqueles que residem em nossa zona rural, onde abordaremos as dificuldades por eles enfrentadas, os maiores períodos de estiagem vivenciados, as experiências de vida e costumes para prever tempos de fartura e também iniciativas que amenizam o sofrimento dos sertanejos. Iniciaremos essa série mostrando um pouco da geografia do município e também das principais dificuldades enfrentadas por eles, na zona rural:

 

Santa Cruz do Capibaribe, município localizado a 193 quilômetros da capital Recife, está inserida no agreste pernambucano. Possui como bioma predominante a caatinga, apresentando uma vegetação composta, predominantemente, de árvores de pequeno e médio porte, com caules retorcidos e raízes profundas. Suas folhas caem nos períodos de seca, o que evidencia a paisagem predominantemente acinzentada.

 

“Tenho 06 reis e um saco de farelo dura só dois dias. A coisa esse ano tá meio desmantelada", afirma José Pinheiro sobre sua dificuldade de manter os poucos animais. Foto: Arnaldo Viturino .

A cidade possui também alta concentração de cactáceas a exemplo da coroa de frade, o xique-xique e o mandacaru. Apresenta também diversos animais como lagartos, pássaros e cobras, muitos deles só encontrados nesse tipo de bioma. Possui solo arenoso e pedregoso, com pouca incidência de chuvas durante o ano. O município é integrante do Polo de Confecções do estado. Possui uma população de 87.582 pessoas sendo um pouco mais de 2 mil residentes na zona rural.

 

A dificuldade de viver na zona rural é uma constante para os agricultores de Santa Cruz do Capibaribe, especialmente para promover o plantio de grãos. Para a maioria deles, a chuva e os poços artesianos são os principais fornecedores de água para a viabilização das plantações. Pouco podem aproveitar do Rio Capibaribe, já que o mesmo se encontra seco em muitos trechos e também represado em diversos pontos. Os barreiros existentes, em sua maioria, não acumulam água suficiente para o ano inteiro, o que os fazem depender principalmente do abastecimento com caminhões pipas, poços artesianos e cisternas de placas.

Cisternas de Placas são alternativas de armazenamento de água para consumo de residencias. Foto: Thonny Hill

 

Para muitos desses agricultores entrevistados, a chuva esse ano já chegou muito tarde, o que inviabilizou o plantio de feijão e de milho, típico da época. É o caso de Genivan José Quixabeira. Com 45 anos e residente no Sítio Porteira, esse agricultor passa pelas mesmas dificuldades enfrentadas por muitos de seus vizinhos que vivem na zona rural. O medo da seca e suas privações são evidentes, onde afirma que “A seca aqui é muito difícil. Quem tem poço, quem tem resto de água nos açudes, vai se virando. A água de beber, se coloca nas cisternas. A chuva tá chegando muito tarde e nesses tempos nós já temos, pra os bichos, o “roedor” e agora é tudo seco. Os mais velhos dizem que pode ter água pra encher açude, mas pra lucro, não”.

A seca aqui é muito difícil. Quem tem poço, quem tem resto de água nos açudes, vai se virando", afirmou Genivan José sobre a seca nos dias de hoje. Foto: Arnaldo Viturino.

 

Além de oferecer alimento, as plantações representam fonte de renda para esses agricultores, que vendem o excedente dos produtos principalmente nas feiras livres ou estocam as sementes para o próximo plantio. Para muitos, o leite, a criação de cabras e de algumas cabeças de gado ajudam no orçamento familiar, mas alertam também que está bastante caro manter os rebanhos.

 

Plantio de palmas é uma das poucas alternativas viáveis para alimentação de animais na falta das chuvas. Foto: Thonny Hill

Algumas das dificuldades para alimentar os animais está no preço de produtos usados como ração. A falta de capim devido às poucas chuvas e o preço da saca de farelo dificultam a manutenção dos animais. É o caso do agricultor José Pinheiro Neto, residente em Cacimba de Baixo, que chega a pagar até 50 reais por uma saca, onde afirma: “Tenho 06 reis (cabeças de gado) e um saco de farelo dura só dois dias. A coisa esse ano tá meio desmantelada. Nós temos a palma pra dar aos bichinhos, se não fosse essa palma e esse capim, a situação era pior. Tem muita gente que não tem a palma, farelo compra caro. Mas quem espera em Deus, sempre alcança”.

 

Mesmo com dificuldades, os sertanejos buscam a sobrevivência e também permanecer nas suas propriedades. Para isso, muitos deles procuram empregos nos fabricos da cidade e os com melhores condições financeiras investem em pequenas facções de costura. É o caso da agricultora Inácia Aparecida da Silva, 45 anos, onde ela afirma “A sulanca pra mim ajuda em tudo. Nós costuramos pra os outros, fazendo shorts, mas está fraco pra trabalho. Faz três meses que não costuro muito, tá parado” afirmou.

 

Na próxima reportagem, falaremos sobre os costumes e também sobre as experiências de vida dos sertanejos, especialmente na maneira de interpretar os sinais da natureza como forma de prever tempos de seca e fartura.

 

Crianças felizes em meio às adversidades provocadas pela seca. Foto: Arnaldo Viturino.

 

 

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