“O Gigante Acordou”. Será?
Todos têm visto (e até participado) das manifestações que tem acontecido por todo o Brasil, que há mais de duas semanas eclodiram com as “vozes da rua” pedindo mudanças do poder público nos mais variados segmentos.
O problema é que muitos estão eufóricos com o “gigante que acordou”, mas quando analisamos os ganhos obtidos com as manifestações, percebemos que as conquistas foram muito tímidas e com um risco de inverter a situação: o povo na rua deixa de ser solução e passa a ser culpado pelas mazelas do país. Hoje o povo é o responsável de forma indireta.
A derrubada da PEC 37 (em uma reunião que mais parecia um circo na Câmara dos Deputados), a transformação da corrupção em crime hediondo ou o anúncio de 50 bilhões em investimentos em mobilidade urbana estavam previstos, tendo sido apenas uma resposta para acalmar os ânimos. E funcionou, pois a maioria dos que estavam na rua querem mudança, mas não têm histórico de mobilização ou de discussão política para definir como e quais as mudanças são necessárias, assim são facilmente enganados pelos governantes e políticos que tanto foram criticados.
E, tendo em vista que os pedidos foram tão genéricos e simples, foi fácil para o governo “atender a demanda”.
A reforma política é sim fundamental, mas colocar esta responsabilidade nas mãos do povo (que em sua maioria não tem discernimento para decidir) é o mesmo que deixar as ovelhas aos cuidados dos lobos, pois o povo será induzido ao erro, por aqueles que estão atualmente no comando.
Por isso, entendo que a melhor alternativa para esta proposta seria se criar um grupo, composto de juristas, estudiosos, instituições e legisladores para elaborar uma proposta e, após, passar pelo referendo da população, tendo em vista que, como disse antes, se a população decidir sem os discernimentos necessários, poderá ficar refém de sua própria (mau) escolha, tal como acontece atualmente com os votos que esta mesma população dá em políticos corruptos, picaretas e mau caráter que estão ocupando cargos eletivos atualmente.
Infelizmente, muitas questões fundamentais não foram lembradas, tal como a taxação das grandes riquezas, a democratização dos meios de comunicação, o endurecimento das legislações que tratam da corrupção (e não somente dizer que é crime hediondo, quando os políticos sempre conseguem prolatar seus julgamentos com manobras), dentre outros temas.
Um ponto extremamente positivo que vejo é que o povo foi para rua e isso é o inicio para uma participação mais efetiva (que é o que defendemos), mas não devemos cair na facilidade de acreditar que “o gigante acordou”, quando percebemos que não é bem assim.