Feirantes relatam histórias e expectativas com a mudança
Dúvidas, incertezas, esperanças… uma mistura de sentimentos num momento de transição
Quem conversou com comerciantes e clientes no último dia da popular “Feira de Mangaio”, na Avenida Padre Zuzinha, Centro de Santa Cruz do Capibaribe, ouviu uma série de opiniões divergentes por parte de ambos, com a ratificação de sua mudança para a nova Central de Feiras e Mercados do município.
O ‘medo’ da nova realidade pode ser explicado, principalmente, pela paixão de estar há 20, 30, 40 anos ou mais, visitando (vendendo ou comprando) no mesmo lugar. Há, por parte da maioria também, a esperança de que o novo espaço seja de renovação nas vendas, de organização, segurança e comodidade para a população.
A segunda reportagem da série “Feira de Mangaio – Novas páginas de uma cativante história” trata da mudança de localidade e traz relatos e expectativas de alguns personagens que ajudam a construir a história da cidade.
Cidade mãe, feira acolhedora
Afável, a feira ‘abraçou’ Manoel Alves de Moura (68 anos), ‘Seu Manoel’, vendedor de frutas, há décadas.
“Na verdade, sou natural de Caruaru. Quando cheguei aqui comecei a vender nessa feira e não parei mais. Vou guardar para sempre os primeiros dias que comecei”, diz, relatando alguns acontecimentos marcantes da avenida, da estrutura e fatos marcantes da cidade.
Seu Manoel fala com orgulho de uma família, de 9 filhos, criada com o sustento da feira. Mesmo com a torcida por dias melhores, ele ainda tem receio com a mudança.
“Espero que dê certo, mas não tenho certeza disso”, diz.
O casal Arlindo Amaro do Santos (63 anos) e Severina Maria da Silva Santos (59 anos), construíram o casamento na referida feira. São 35 anos em que, semanalmente, comercializam frutas, alimentando o domicílio.
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“Naquela época, a feira era muito pequena. Tanto que éramos os últimos, bem no recanto… Cresceu tanto, que hoje estamos no meio”, diz dona Severina, que começou vendendo doce, no início da década de 1980.
A feira abraçou também, há 24 anos, Albertino Antônio do Nascimento (72 anos), natural de Aroeiras na Paraíba, vendedor de fumo, chapéus e vassouras.
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“Conquistei muitos amigos aqui ao longo desses anos e isso é algo que vou levar comigo. Vi essa feira mudar seu jeito muitas vezes, mas sempre estive aqui e é nessa feira que vou estar, estando onde ela estiver” – disse.
Já Josenildo Gomes de Arruda (46 anos, sendo 12 dedicados ao comércio na Feira de Mangaio, casado e pai de dois filhos) falou sobre as expectativas com a nova mudança, mas também falou de como realizou seu principal sonho graças ao seu trabalho no local.
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“Todas as coisas que não tínhamos aqui, vamos alcançar com a nova feira. Nos prometeram que vai ter segurança, banheiros para nós e para os clientes… Estou com boas expectativas, mas essa feira também vai deixar saudades. Consegui ter meu teto (casa própria) daqui, sempre comercializando charque e queijo, graças a Deus. Tenho também um carro de ano baixo, mas consegui tudo o que tenho daqui mesmo. Daqui eu vou recordar muitas lembranças boas, mas desejo que tudo o que consegui aqui, que todos consigam lá” – disse.
Outro que também mostrou que terá boas recordações da feira é José Ramos Santiago, que vende uvas e bananas há mais de 20 anos.
“Tenho seis filhos, todos eles foram sustentados aqui graças a essa feira. Na época em dois deles eram solteiros, eles trabalharam aqui comigo. Uma coisa boa que vou guardar na memória é que sempre, toda semana, fico muito satisfeito em voltar para casa com um dinheirinho no bolso para mim e para minha família. Na minha casa, ainda tenho minha esposa e dois filhos que vivem do que ganho aqui. Já uma coisa ruim foi que uma pessoa foi morta aqui pertinho de onde estou. Isto já foi e vai sair da memória” – disse.
João Manoel da Silva (48 anos), natural de Batateiras, e centenas de outros personagens que fortalecem a economia local, cada qual com sua parcela e peculiaridade.
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A dúvida sobre o novo ponto ainda impera. Existe, também, a alegria, de boa parte, pela mudança para um local aparentemente mais confortável, a esperança e torcida de mais vendas e crescimento econômico, nessa nova fase.
No fim, no entanto, todos têm uma certeza: A Feira de Mangaio na Avenida Padre Zuzinha vai deixar saudade.
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