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Em 2016 nos acostumamos a permanecer mais tempo dentro de casa. Nos acostumamos a demorar um pouco mais para sair e aprendemos sempre verificar algum movimento estranho, desconfiando de qualquer pessoa em nossa volta.
Nos acostumamos a não usar o celular em locais públicos e acostumamos nossos filhos a saírem de casa sem o aparelho.
Nos acostumamos a andar com pouco dinheiro e a não fazer saques em caixas eletrônicos. Fomos nos acostumando a pagar um pouco mais ao vigia da rua para ficar por perto quando temos que sair cedinho para a feira e a regressar para casa com medo de perder o pouco dinheiro que foi conseguido durante o dia.
Fomos nos acostumando a não permitir que nossos filhos voltem sozinhos da escola.
Nos acostumamos a deixar a porta da casa sempre trancada à chave, a evitar receber a visita de vizinhos e parentes.
Nos acostumamos a acompanhar todos os dias as notícias sobre assaltos e latrocínios sem tanto destaque nas manchetes.
Nos acostumamos a evitar sair à noite, a resgatar o seguro do veículo que foi roubado e a demonstrar nossa indignação nas redes sociais, mesmo tendo a certeza de que não haverá solução.
Nos acostumamos a prestar queixa na polícia apenas para garantir a emissão da segunda via dos documentos que foram roubados.
Nos acostumamos até mesmo a ir ao culto ou à missa nas noites dos domingos mais cedo e a direcionar nossas orações quanto ao regresso para casa.
Nos acostumamos a ouvir que a crise econômica é a desculpa pela falta de ações e que a violência ocorre em todas as outras regiões.
Aos poucos, vamos nos acostumando a aceitar a incompetência dos nossos governantes e a assumir o nosso papel de omissos diante da falta de segurança no Agreste de Pernambuco.
Por Ney Lima