Voz de Jacó, Mãos de Esaú!
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Uma Breve Avaliação de Nossa Personalidade
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“Então disse Isaque a Jacó: Chega-te aqui, para que eu te apalpe, meu filho, e veja se és meu filho Esaú ou não. Jacó chegou-se a Isaque, seu pai, que o apalpou, e disse:
A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú” (Gênesis 27:21,22)
No artigo anterior (Uma Família em Crise), com base em Gênesis, do capítulo 25 ao 35, enfatizamos que em linhas gerais, essa história patriarcal nos ensina que: Toda família tem conflitos; As dádivas de Deus não podem ser negociadas; Devemos avaliar diligentemente nossa conduta; e, a reconciliação sempre é possível. Fundamentados no mesmo texto, podemos também, observar comportamentos dos personagens em foco, sem deixar de fazer uma breve avaliação de nossa personalidade.
A maquinação de Rebeca e o disfarce de Jacó
Rebeca tem um plano e seu filho predileto é também seu cúmplice (27:8). De fato, há uma duplicidade e cumplicidade em execução. Jacó em concessão com sua mãe, prepara sua maquiagem, veste seu disfarce, apossa-se de seu novo personagem, decora sua encenação e assume sua nova e enganosa identidade – mãos peludas, roupa com cheiro do campo, comida saborosa. Ele entra em cena e se apresenta ao pobre e velho Isaque, que já não podia ver, pois seus olhos enfraqueceram (27:1). E nós, como temos comparecido perante o Criador? Não nos esqueçamos que diferente de Isaque, Deus tudo vê, até mesmo os nossos disfarces mais ocultos (I Sm 16:07; Sl.139:07-16).
Jacó e sua mãe, cheios de pretensões, ludibriaram a si mesmos. Empreenderam todo esforço para alcançar a cobiçada bênção da primogenitura. Vejamos os passos da maquinação: “Dois bons cabritos para uma saborosa comida” (27:09); “Melhor roupa de Esaú” (27:15); “Pele de cabrito nas mãos e pescoço” (27:16); Sua inverdade, “Sou Esaú” (27:19); e sua blasfêmia, “O Senhor, teu Deus, a mandou” (27:20). Ele apela aos diferentes aspectos da falta de verdade. Ele mentiu com o silêncio, com sua aparência, e finalmente, com sua fala. De forma Inacreditável, Jacó traz até Deus por sua testemunha. Para respaldar sua mentira, ele não se importa de usar o nome do Criador em vão. Ora, propósitos errados e pretensões maliciosas obstinam nossa mente a cometer erros, trazendo inclusive, resultados danosos.
A investigação de Isaque e seu Conflito
Observemos o cuidado do veterano patriarca: “Chega-te aqui, para que eu te apalpe, meu filho, e veja se és meu filho Esaú ou não”. (Gn. 27: 21). Isaque quer identificar seu primogênito, não quer ser enganado pelo vulto à sua frente, quer ter certeza da presença de Esaú e para isso utiliza seu grande recurso de identificação, o tato. Nessa investigação, o bem intencionado Isaque quer saber se é o filho Esaú, ou não. “Ser ou Não Ser” – Eis o grande problema da nossa geração, para não dizer, dos nossos cristãos. O cristianismo nos desafia na busca do “ser”, e não do “ter”, ou do “aparentar ser”. Jesus chamou de bem-aventurados os que são (Mt.5:3-14). Parece que precisamos esquadrinhar melhor nosso próprio ser. Somos, ou apenas, aparentamos ser?”. Por vezes, obscurecemos nossa própria auto avaliação. É preciso coragem para admitir quando agimos à semelhança de Jacó. Se nos identificamos cada vez mais com Jacó e menos com Cristo, já não somos cristãos, e sim, “Jacós”. Nos despojamos desse conflito quando confessamos nossos pecados e desnudamos o rosto, tirando nosso próprio véu. Sim, quando lavamos nossa maquiagem nas águas límpidas do trono e nos quedamos ao pé da Cruz.
Por outro lado, constantemente nos enganamos, ou somos enganados, por vultos que parecem “Esaús”, mas na realidade, são “Jacós”. Estejamos atentos, olhos abertos e percepção aguçada, pois, aqui, acolá nos deparamos com tais alucinações. Que conflito para Isaque! Algo muito estranho estava acontecendo e ao apalpar o filho, diz: “A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú” (27:22). Ele não sabia, mas estava diante de uma encenação. E Jacó como ator principiante não consegue disfarçar a voz. Aí está ele com sua voz e mãos enganadoras. A limitada percepção de Isaque quase borrou a maquiagem de Jacó. Quando se percebe que a voz é de um, e as mãos são de outro, geralmente indaga-se a personalidade. Até porque, na personalidade de verniz, as mãos não se harmonizam com as palavras.
O lamento de Esaú e sua Indignação
Esaú descobre que Jacó se utilizou de meios ilegais para alcançar seu grande objetivo, a bênção que não era sua. Ele acusa que já foi enganado duas vezes pelo irmão, dizendo: “tirou-me o direito de primogenitura e agora usurpa a bênção que era minha” (27:36). Todo esse processo seguido por choro, retrocesso, sentimento de perda e indignação (27:38-41).
A transformação de Jacó e sua reconciliação
A inusitada história patriarcal tem um final feliz. Jacó teve um belíssimo encontro com Deus, assumiu sua real identidade e foi transformado (32:28,30). Um novo Jacó, de fato e de verdade, compareceu arrependido, diante de Esaú (33:3-12) e de Isaque (35:27-29). Porque agora, “Voz de Jacó, mãos de Esaú”, é coisa do passado. Assim seja!
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