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Artigo – Por Clécio Dias

Sua última dormida na calçada um pouco antes de ser levado à UPA para ser internado há quase um ano significou sua despedida das estrelas e foi seu último contato com a liberdade…

Ele guardou todos os seus mistérios em si mesmo. Escondeu a dor de ser retirado da rua para viver numa casa e isso foi doloroso. É como se você ou eu fosse tirado de casa para viver na rua, pois a casa, para ele, era como a rua é para nós…

O telhado roubou dele as estrelas e as paredes lhe roubaram o vento, o sol, a liberdade, uma liberdade que nós nunca fomos capazes de sentir…

O velho Luiz, tão conhecido, chamado de Zé Leitão, se espraiava numa calçada quando a noite pincelava sua tinta escura no céu…

Seus dois cachorros, Branco e Xôla, eram os únicos amigos que ele tinha pelas madrugadas…

A rua Luíza Mendes perdeu um de seus mais ilustres moradores. Ou melhor, perdeu seu único morador, pois as outras pessoas moravam nas casas e só ele morava na rua…

A solidão só não era mais cruel porque seus dois cachorrinhos o acompanhavam a qualquer lugar (…)

Zé Leitão viveu na rua o tempo todo, mas guardou seus mistérios como tivesse vivido isolado, longe de todo mundo.

Ninguém jamais interpretou seu silêncio. Poucos conheciam sua dor…

Quem o encontrasse no meio da noite, numa noite de lua cheia, com seu paletó, as roupas escuras, poderia até se assustar, mas ele não fazia o mal a ninguém, só queria viver do seu modo, do seu jeito…

O velho solitário, o velho da rua hoje deu seu último suspiro.

Talvez quisesse ter morrido pertinho dos seus dois cachorrinhos, mas seus amigos mais leais não puderam se despedir dele…

Ele queria morrer no sereno da noite, numa noite de lua cheia e que as estrelas fossem como velas, ele queria morrer livre…

Espero que o solitário e misterioso velho, que povoou nossa imaginação, seja um dia lembrado com dignidade e que minhas palavras sejam um grito que atravesse o tempo…

“Nos últimos 20 anos do século XX e nos primeiros 21 anos do século XXI percorreu nossas ruas um velho misterioso, sem idade, sem preconceito, sem sobrenome, que nunca teve casa, mas teve a rua, a lua, a noite e o amor de dois cachorrinhos de rua…

Texto de Clécio Dias!

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