Oposição míope?
O impeachment da presidente Dilma Rousseff não é improvável. Mas é mais adequado afirmar que é provável que Dilma não seja impedida de governar. Diversos pontos me motivam a considerar fortemente a possibilidade de Dilma continuar à frente da presidência da República.
É provável, neste instante, que o Tribunal de Contas da União (TCU) reprove as contas do governo Dilma. Mas Dilma tem condições de incentivar o Congresso Nacional a não aprovar a decisão do TCU. Partidos aliados, em qualquer governo, desejam recompensas. Deste modo, é possível que o governo Dilma atenda as demandas dos parlamentares e evite que a Câmara Federal acate a abertura de processo de impedimento da presidente.
Eduardo Cunha e Renan Calheiros são atores estratégicos. Mas frágeis, em razão das denúncias advindas da Operação Lava Jato. Portanto, eles podem optar por ceder às solicitações da presidente Dilma. Michel Temer mostra fidelidade a presidente e habilidade na articulação política. Assim sendo, Temer tem condições de continuar a apaziguar os ânimos dos aliados. Por sua vez, Joaquim Levy consegue, com muito esforço, conduzir o ajuste fiscal. Com isto, vislumbro melhora dos indicadores econômicos, em particular, da inflação em 2016. Portanto, prevejo que Dilma finda o mandato presidencial.
Porém, se a dinâmica política sugerida não for observada? A presidente Dilma sofrerá impedimento. E caso isto corra, uma nova eleição poderá acontecer. Neste caso, Aécio Neves é, aparentemente, o candidato mais forte eleitoralmente. Mas não desprezo a possibilidade de Aécio ser ultrapassado por um aventureiro. Condições propícias para o sucesso eleitoral de um aventureiro estarão presentes em uma nova eleição antecipada.
Independente de quem assumirá a presidência da República, caso o impeachment da presidente Dilma ocorra, os desafios do governo Dilma continuarão presentes. O ajuste fiscal precisará ser concluído. Demandas salariais dos servidores públicos não serão atendidas em sua plenitude, inclusive a do Judiciário. Eduardo Cunha e Renan Calheiros continuarão a ser atores estratégicos, mas frágeis. E o crescimento econômico não será pujante, assim como foi observado na era Lula.
Porém, o impedimento da presidente Dilma trará um fato novo, o qual não está hoje presente, qual seja: o PT fará oposição sob o comando do ex-presidente Lula. O PT na oposição reconstituirá o papel dos movimentos sociais e sindicais na dinâmica política brasileira. E em razão dos desafios econômicos, manifestações de ruas, mais pujantes das que ocorreram recentemente, poderão acontecer. Portanto, a estratégia ótima para os atores da oposição é preservar o mandato de Dilma Rousseff. Pois caso isto não ocorra, eles poderão fortalecer o PT antecipadamente.
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